Clube Finlândia: trincheira maior do Penedo mais autêntico

Em um Penedo onde o futuro já chegou, a principal instituição do Penedo finlandês busca, apesar das dificuldades, cumprir sua função estatutária e missão primeira de preservar a cultura da única colônia finlandesa do Brasil.

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Quem hoje, entre os daqui que lá frequentam, e entre os de fora que lá turistam felizes, poderia supor que o Baile Finlandês de Penedo talvez jamais tivesse existido senão por uma sucessão de três conjunturas das mais inusitadas, lá pelos idos de 70 anos atrás. A rigor, o Clube Finlândia, principal instituição da Colônia Finlandesa de Penedo, nasceu de uma estranha mistura de mudas de laranjeiras, ovos de galinha e plantas medicinais.

Em primeiro lugar, um cenário que foi também uma grande ironia da vida, e do destino compartilhado por centenas de imigrantes finlandeses que vieram para o trópico em busca de recriar o Éden na Terra; em busca de sol, saúde e um pouco de tranquilidade, longe da ameaça constante representada pela guerra: foi precisamente a Segunda Guerra Mundial que provocou o debacle da “indústria” da venda de laranjas da Baixada Fluminense para a Europa, fulminando por tabela a principal atividade econômica da Colônia Finlandesa de Penedo no início década de 1940, que era o plantio de mudas para abastecer os laranjais da baixada voltados para a exportação.

A alegria solta do Baile Finlandês de Penedo.

Um segundo cenário, inusitado, e consequência do primeiro, foi o de dezenas de finlandeses despencados dos nortes do mundo para o pé da serra da Mantiqueira e vivendo, então— depois das mudas de laranjeiras — , da criação de galinhas. Os finlandeses criadores de galinha se uniram para fazer compras de ração por atacado do moinho de Barra Mansa e para vender a produção, os ovos, para Resende e para a capital. A coisa foi indo bem, e os finlandeses de Penedo se animaram para transformar seu modelo informal de cooperativa em uma cooperativa de fato, a Associação Finlandesa. Não tardou para que os associados sentissem falta de uma sede para suas atividades, e a sede começou a ser construída em regime de mutirão e financiada com a venda de pão doce finlandês.

Com a sede pronta, tudo em Penedo mudou outra vez. Em 1942, o líder da colônia, Toivo Uuskallio, vendeu parte da velha fazenda do ciclo do café comprada pelos imigrantes aos monges beneditinos, a Fazenda Penedo, para uma companhia suíça que criaria nas terras arrematadas a empresa Plamed (Plantas Medicinais do Brasil). Logo os finlandeses passaram da criação de galinhas ao trabalho assalariado para a Plamed, fosse no cultivo de plantas medicinais, fosse na construção de estradas, pontes e toda infraestrutura daquele novo Penedo nascente. Era o fim da colônia utópica, do sonho coletivo do paraíso na Terra, e o início da vida em que cada um cuidaria se sua vida.

Mas e a sede da cooperativa dos produtores avícolas? Os finlandeses resolveram transformar o agora inútil entreposto de farelo para a criação em sede de um clube social. E foi depois dessa incrível sucessão de laranjais arrasados por bombas que estouravam à distância de um hemisfério, de nórdicos ganhando a vida nos trópicos vendendo ovos de galinha caipira e de finlandeses trabalhando para suíços no plantio de eucaliptos da Mantiqueira que, na noite de 23 de junho de 1943, véspera de Juhannus, o São João finlandês, aconteceu em Penedo um animado baile iluminado por lâmpadas de carbureto e embalado por polcas, jenkkas e mazurcas tocadas em vitrola de corda.

Baile Finlandês: primeiro sábado do mês e sábados de feriados prolongados.

Foi assim que nasceu o Baile Finlandês de Penedo, em uma noite de glória que arrebanhou praticamente todos os finlandeses remanescentes da colônia para o armazém de insumos avícolas transformado em salão de folguedo. Depois, os bailes se repetiam até três vezes por semana, ali mesmo onde até anteontem havia uma colônia utópico-religiosa onde chegou a ser proibido dançar. Foi assim também que nasceu o Clube Finlândia, por mais que ele só tenha ganhado esse nome no dia 1º de maio de 1952, data oficial de sua fundação. E num relatório do Clube Finlândia datado de um outro 1º de maio, este de 1959, consta uma frase que traduz muito brevemente sua importância para os pontapés iniciais do desenvolvimento do turismo aqui neste cantinho finlandês: “É este clube que dá vida e movimento à localidade e atrai hóspedes para as pensões”.

Ainda hoje, já na segunda década do século XXI, os bailes típicos do Clube Finlândia são o que dá vida e movimento às viagens dos turistas mais atentos às surpresas que as viagens podem reservar, ainda que hoje o Baile Finlandês de Penedo seja realizado apenas no primeiro sábado de cada mês, em sábados de feriados prolongados e em datas especiais, como o Vappu e o Pikkujoulu, o Pequeno Natal Finlandês. Tudo isso em uma sede social que já não funciona mais debaixo do teto do velho armazém, mas em outra, bem maior, na avenida principal, construída na década de 1980 com recursos da afluência aos baile de sábado, e anexo à qual funciona o também concorrido Museu Eva Hilden da Arte e da Cultura Finlandesa de Penedo.

Museu Eva Hilden da Arte e da Cultura Finlandesa de Penedo.

Um Penedo para sempre autêntico

Em um seminário realizado em 1999 no complexo temático da Pequena Finlândia, e intitulado “Um Penedo Finlandês”, o então presidente do clube, Alva Athos Fagerlund, lançou a pergunta: “Qual deverá ser o papel do Clube Finlândia no futuro de Penedo?”. Conta o próprio Alva o que se ouviu da audiência do Centro Cultural Sibelius, na Pequena Finlândia: “O clube não deve se modernizar; deve procurar voltar a suas origens”.

Hoje, quase duas décadas depois, esta é a preocupação que norteia os responsáveis pelo clube, que são os responsáveis por garantir o papel do clube em Penedo em um futuro que já chegou. Não tanto ao pé da letra, porque se modernizar é sempre preciso; mas procurando cumprir sua função estatutária de preservar a cultura finlandesa de Penedo, e procurando não perder de vista, apesar das dificuldades, a essência daquele clamor da virada do século, que é o clamor de sempre e de todos que querem um Penedo para sempre autêntico.

Clube Finlândia
Avenida das Mangueiras 2601, Largo Finlândia.
Tel. (24) 3351–1374
E-mail:
clubefinblog@gmail.com
Clube Finlândia no Facebook:
facebook.com/clubefinlandia.penedo
Clube Finlândia no Instagram: @clubefinlandia.penedo

Baile Finlandês de Penedo
Primeiro sábado de cada mês e em sábados de feriados prolongados, na sede social do Clube Finlândia, a partir das 20:30h. Serviço de bar e estacionamento grátis. Ingressos: R$ 20,00.

Museu Eva Hilden da Arte e da Cultura Finlandesa de Penedo
Anexo à sede social do Clube Finlândia. Sábados (10h-13h/15h-17) e domingos (10h-13h). Acervo: centenas de objetos trazidos da Finlândia; arte, artesanato, fotos e documentos que contam a história da Colônia Finlandesa de Penedo.

Pikkujoulu, o Pequeno Natal do Clube Finlândia.

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