Em Penedo, a fantástica fauna da Mata Atlântica

É como um álbum do chocolate Surpresa: jacu, ouriço-cacheiro, saíra-sete-cores, tiê-sangue, murucututu, teiú, tucano-bico-verde etc. Zoológico para quê? Em Penedo, basta olhar menos as vitrines, e mais a natureza ao redor.

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Tem penas, gosta de ciscar atrás de insetos e é comum de se ver precisamente assim, arrastando o pé na terra úmida, nas ruas e estradinhas de Penedo que ainda são de chão. É o jacu. Quem tem entre 30 e 40 anos há de se lembrar da coleção de cards com fotos de bichos da Mata Atlântica que vinham junto com o chocolate Surpresa. Lia-se no card do jacu, como se já se lesse o pensamento de muitos turistas de Penedo na hora que se deparam com esta muito ilustre espécie da nossa fauna: “parece um frangão desses bem robustos”.

Além do jacu, são vários os bichos daquela coleção dos anos 80 que podem ser vistos por aqui, em Penedo, desde o caxinguelê, o esquilo da Mata Atlântica, até as sairinhas de todas as cores que descem das árvores para beliscar as bananas e os mamões que os moradores lhes oferecem no café, no almoço ou no jantar, passando pelo tiê-sangue, um passarinho preto e vermelho que há alguns anos foi eleito a ave-símbolo de Penedo, em uma enquete realizada com visitantes do Museu Finlandês, e cujo resultado, obviamente, nada teve a ver com a torcida do Flamengo.

Um belo Jacu em cima de um galinheiro, em Penedo.
O café da manhã da sairinha-sete-cores.

Muitas crianças das cidades podem cair estupefadas para trás ao verem um tucano dos desenhos animados, de bico verde, pulando de galho em galho no alto dos pés de jabuticaba. E muitos adultos que até ontem foram crianças criadas nas capitais podem se emocionar ao verem soltos na natureza passarinhos que muito provavelmente só tinham visto dentro de gaiolas, como o coleirinho.

Dois gambás e um ouriço no fio de altíssima tensão

Já outros bichos da Mata Atlântica, quando são vistos aqui por turistas, geralmente o são pela primeira vez. É o caso do murucututu, a grande coruja da noite, a maior coruja tropical e uma das maiores do mundo. Vendo seu lindo filhote empoleirado na copa de uma árvore vizinha à sede de uma pousada, atento aos primeiros movimentos da manhã, parecendo uma daquelas pelúcias da Parmalat, é difícil se impressionar com a lenda indígena segundo a qual os murucututus são almas humanas culpadas por graves maus feitos e condenadas a vagar daquele jeito, com cara de coruja, nas madrugadas das florestas. Mas ver um filhotinho desses é quase tão raro quanto ver um veado-catingueiro, ameaçado de extinção, vagando pelos matagais dos terrenos alagadiços que ficam perto da Via Dutra. Pero que los hay, los hay.

E tira mesmo a sorte grande quem consegue presenciar a cena insólita de dois gambás do mato cercando um ouriço-cacheiro no alto do cabo de luz, em uma guerra fria silvestre que entra pela noite de Penedo, justificando que se dê àquele cabo o nome de fio de alta tensão.

Engarrafamento no fio de alta, altíssima tensão.

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