As cachoeiras do ribeirão das Pedras

Na parte alta de Penedo o ribeirão das Pedras ora se despenca em várias quedas d’água, como as Três Bacias, ora se aquieta em lindas piscinas naturais, como o poção Esmeralda.

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É dentro dos limites do Parque Nacional do Itatiaia que ela brota da terra, cristalina do tanto que vem filtrada pelas entranhas da Mantiqueira, fazendo nascer um curso d’água que ganha volume a cada metro por que se despenca desde o alto da serra, e chegando na parte alta de Penedo já na forma encorpada de um lindo e ancestral ribeirão de águas frias que ora saltam velozes e espumantes sobre as pedras cuspidas lá de cima do Itatiaia em outras eras geológicas, e ora se aquietam em piscinas naturais onde nadam toda sorte de seres viventes, das iraras da Mata Atlântica a turistas que vêm se recompor na mata das agruras e dos perigos enfrentados no dia a dia em outras selvas.

A primeira das várias quedas d’água mais facilmente acessíveis do ribeirão das Pedras, no Alto Penedo, são as Três Bacias, uma sequência de pequenas cachoeiras de pedras lisas onde os mais exibidos escorregam de pé para cair de corpo e alma nas três pequeninas piscinas, ou bacias, escavadas na rocha pela água corrente. Chega-se de carro quase à beira das Três Bacias, mas aqueles mais zelosos com suspensão, molas e amortecedores podem se zangar com o estado precário do último quilômetro da estrada para lá.

Logo, logo abaixo das Três Bacias fica o poção Esmeralda, a mais bela piscina natural de Penedo. Seu nome é assim por causa do hábito de Narciso da mata nativa ciliar, que se debruça sobre o poção para admirar seu próprio reflexo verdejante, e não por causa de qualquer possibilidade sonhada de achar pedras preciosas em seu fundo — devaneio traído pelo mau hábito de chamar o poção Esmeralda pelo nome que dele não é: poço das Esmeraldas.

Poção Esmeralda.

A cachoeira que foi convertida

Ribeirão abaixo está a cachoeira de Deus, acessível por uma trilha que mesmo os mais ofegantes podem cumprir em não mais que cinco rápidos minutos. A muito reta bancada evangélica do Congresso Nacional adoraria saber que a cachoeira de Deus é mesmo uma queda d’água convertida. Há duas décadas seu nome era justamente o do outro lado das coisas: cachoeira do Diabo. A redenção veio quando alguns donos de hotéis e pousadas do Alto Penedo deliberaram que aquilo não caía bem, e trataram de pôr a cachoeira no caminho da salvação.

Um casal contempla lá do alto a cachoeira do Diabo, ou melhor, de Deus.

É nas Três Cachoeiras, o balneário mais concorrido de Penedo, que o ribeirão despenca-se de uma boa altura pela última vez, à beira da estrada que leva ao Alto Penedo, e que leva seu nome: estrada das Três Cachoeiras. A partir dali ele corre mais sossegado em seu leito, cortando toda a parte baixa de Penedo, serpenteando a terra onde outrora, à sua margem esquerda, instalou-se a maioria dos colonos finlandeses que bebiam das suas águas, atiravam-se nelas após os banhos de sauna, abrindo caminho nos matagais, e se estivaram nus ou semi-nus em suas pedras para tomar um bocado de sol. Depois, o ribeirão segue manso seu curso ainda por alguns quilômetros à frente, até desaguar no rio Paraíba do Sul.

Finlandesas de Penedo tomando banho desinibidas no ribeirão, bem antigamente.
Um raro momento de total sossego no concorrido balneário das Três Cachoeiras.

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